O discernimento não é um
pré-julgamento e nem um ajuizamento. Muito embora na definição da palavra,
apareça como uma forma de ajuizar. Para nós cristãos, ajuizar é colocar-se
acima de outros como autoridade de julgá-los. Portanto, ainda não é a forma
correta de manifestar esse dom. O dom do discernimento jamais é um julgamento e
uma condenação. O discernimento preserva a verdade, desvenda penumbras e
desnuda roupagens. Para se ter discernimento é preciso ter a mente de Cristo.
Ter a mente de Cristo, é pensar como Jesus pensava. Jesus vivia, pensava e a
agia de acordo com as escrituras sagradas, como está escrito: “Eu nada posso fazer
de mim mesmo; na forma porque ouço, julgo.
O meu juízo é justo porque não procuro a minha vontade, e, sim, a daquele que me enviou” (Jo.5:30). “... porque tudo
quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (João 15:15c), “ ...as coisas
que dele tenho ouvido, essas digo ao mundo” (Jo.8:26c). Jesus é a
encarnação do verbo, da própria palavra, como está escrito: “E o verbo se fez carne”. Ter a mente de Cristo se
adquire pela intimidade com a palavra do Senhor e com o Senhor. Esta intimidade
é uma entrega contínua, um despojar-se e um revestir-se (cf. Ef.4:22; Cl.2:15; Tg.1:21; 1Pe.2:1). Uma simples observação
verifica-se que Jesus não pecava, antes encarnava a palavra, pois ele próprio
como o verbo encarnado habitou entre
nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e
de verdade (Jo.1:14).
Discernimento espiritual é a
graça de perceber o invisível, indo além da casca da aparência natural, pois a
natureza humana cobre como um véu e
embute a realidade com aquilo que é aparente. O discernimento é um dom do
Espírito para captar o que está oculto, é de cunho espiritual, penetra na
origem, é uma luz, uma percepção clara e certa da natureza das coisas, cujo
propósito é entender e desvendar as coisas que estão encobertas. Para que isso
venha ocorrer, a primeira coisa que precisa ser removida, são os conceitos
distorcidos da natureza humana que concorrem ao lado da verdade. O véu que é a
carne, bem como sua natureza, tem que ser separada, para ser removida, e a
palavra de Deus faz essa divisão, essa separação como está escrito: “Pois a palavra de
Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela
penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os
pensamentos e intenções do coração” (Hb.4:12). A natureza humana, a
carne (véu) tem uma mente e esta mente não aceita a mente do Espírito, como
está escrito: “Quem
não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe
são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente.
Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é
discernido; pois quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? Nós
porém temos a mente de Cristo” (1Co.2:14-16).
Todo cristão deve ter a mente de Cristo pelo fato de ter o próprio Cristo
morando em seu interior. Mas aquele que não tem a Cristo interiormente, pode
até saber de muitas coisas e ter conhecimento e ciência, mas resume-se ao nível
natural, como a escritura prescreve dizendo: “Pois, quem conhece os pensamentos do homem, a
não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece os
pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus” (1Co.2:11).
O alvo do discernimento é salvar
e não condenar. O objetivo do discernimento reside em escavar e descobrir as
verdadeiras raízes das necessidades humanas. Esse é um princípio que precisa
estar bem fundamentado para que possamos discernir sem permitir que a natureza
emocional humana assuma o controle quando for desvendado a natureza das coisas.
Para que haja discernimento é
preciso se tornar cego para aquilo que está aparente aos olhos naturais. Como
está escrito: “O
Senhor contudo, disse a Samuel: Não considere sua aparência nem sua altura,
pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência (o
exterior de uma pessoa), mas o Senhor vê o coração” (1Sm. 16:7).
Se você que discerniu não estiver
revestido de amor e compaixão, os demônios poderão desafiá-lo e intimidá-lo ao
ponto de não poder reagir. Eles poderão lançar seus ataques se passando pela
própria pessoa discernida. É preciso conhecer a diferença entre o espírito
opressor e a pessoa oprimida. O coração perdoador e amoroso, anulará qualquer
retaliação do engano nesses momentos, visto que a retaliação inimiga é manter-se
camuflada na natureza humana, assumindo uma personalidade como se fosse a
própria pessoa. Ele tentará deslocar a percepção do discernimento para esfera
humana e levá-lo a concluir que não se
trata de uma ação demoníaca, mas apenas de uma opressão, como se ele não
estivesse ali. As vezes as ideias malignas podem estar armazenadas no coração
discernido, sem que o diabo esteja lá. Um exemplo dessa verdade é mostrada no
evangelho quando Jesus começou a ensinar
aos seus discípulos que convinha entrar em Jerusalém e cumprir o que estava
escrito acerca do seu sofrimento junto a classe religiosa de sua época, ser
morto e ressuscitar. Confira o texto: “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a
mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer
muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto,
e ressuscitado no terceiro dia. E Pedro, chamando-o à parte, começou a
reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te
acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda! Satanás; tu és para
mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim, das dos
homens” (Mt.16:21-23). Se Deus revelar o coração dos homens e nos
colocar para libertá-los de seus cativeiros, não podemos reagir cedendo as
palavras daqueles que estão sendo discernidos. Á medida que nosso discernimento
se torna à semelhança de Cristo e os segredos do coração dos homens são
revelados poderemos ser usados por Deus para uma possível libertação. As vezes
é necessário unicamente levar o discernido a substituir a ideia pela verdade,
já em outras vezes, deve-se expulsar Satanás mesmo.
Se não adquirirmos a divina capacidade
de sermos piedosos, você desistirá facilmente da pessoa que discerniu, porque
no geral, qualquer retaliação por parte dele, poderá desgastá-lo emocionalmente
e o discernimento poderá se transformar em uma crítica, uma desavença. Tenho
visto que isso tem acontecido muito no meio do povo de Deus, é crítica por cima
de crítica!! Mas sem resolver nada.
Nestes momentos pensam que estão tendo algum discernimento, enquanto na verdade estão vendo as coisas pelo
véu das cogitações da esfera humana, até mesmo como um bom conselho. O
discernimento antes de se nomear, tem uma ação restauradora, conforme está
escrito: “Não
julguem para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem,
vocês serão julgados. E a medida que usarem, também será usada para medir
vocês. Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá
conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão:
Deixe-me tirar o cisco do seu olho, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire
primeiro a viga do seu olho, e então verá claramente para tirar o cisco do olho
do seu irmão” (Mt.7:1-5).
O
discernimento poderá também acontecer por intermédio de uma ação restauradora
desfrutada por nós mesmos. O arrependimento é a remoção das vigas de nossos
olhos; é o verdadeiro começo de uma percepção cristalina. Quando somos ajudados
pelo Senhor, nos tornamos aptos também para ajudar por intermédio daquilo que
nós mesmos fomos ajudados pelo Senhor. A bênção fica armazenada em nossos
corações. Discernir bem, é vê sem trave, sem argueiros em nossos olhos.
O alvo do discernimento é ver com
clareza e com verdade, sem cogitações humanas. Isto só ocorrerá se for
desarraigado o instinto de julgar os outros. Discernimento começa primeiramente
conosco, depois de ser removido tudo, ficaremos aptos para ver claramente o que
se passa com as pessoas. Confira o que Jesus disse acerca disso: “Hipócrita, tire
primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do
olho do seu irmão” (Mt.7:5). Vemos
aqui, que Jesus compara o ato de abordar as pessoas a respeito de seus pecados
com o ato de tirar o cisco de nossos olhos. O olho é a parte mais delicada e
sensível do corpo humano. Devemos
tirar o cisco dos olhos de alguém com muito cuidado! Primeiro precisa
conquistar sua confiança. Para ajudar os outros é preciso ver claramente, caso
contrário o cisco ainda continuará lá.
Quando temos a mente de Cristo,
temos a palavra viva em nossos pensamentos. Quando a palavra de Deus perscruta
e penetra a vida das pessoas, Deus concede irmos junto com ela percebendo o que
ela repara e identifica. Isto é discernimento de espírito. Portanto, não deve
existir nenhum problema em nosso interior, pois os problemas não resolvidos,
são traves nos olhos, que ofuscarão a nossa percepção.
Concluindo:
Todas as ações restauradoras
investidas por Deus em nosso favor servirão de socorro e bênção para aqueles que
estiverem precisando das mesmas restaurações. Dessa maneira poderemos receber
sonhos, visões, revelações, livres de qualquer preconceito carnal e sermos
usados pelo Senhor para ajudar pessoas.
Confira esta verdade com o que o
apóstolo Paulo diz:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola
em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de
Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações” (2Co.1:3-4)
Tudo que recebemos da parte de
Deus fica armazenado em nossos corações, que Ele mesmo usará no discernimento para
abençoar os que estiverem passando pelos mesmos problemas que passamos.
Que Deus nos ajude.
Amém!!!
Romildo Gurgel
Agosto/2012
Agosto/2012
Fonte:
1 – Bíblia Vida Nova
2 – Bíblia NVI
3 – Dicionário Michelis
4 - Ministries of Francis Frangipane
5 – Chave Bíblica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário