Romildo Gurgel
A primeira
menção das escrituras da palavra igreja (ecclesiae) se encontra no texto de (Mateus 16). Jesus aqui interpreta não só o mistério como
também traduz o seu envolvimento direto com ela. Jesus é o fundador da igreja
cujo fundamento tem implicações diretas com a revelação da sua pessoa. Não há
como entender esse mistério sem que atentemos para a função do Senhor como o cabeça
da criação dessa comunidade. A
comunidade é formada por todos aqueles
que são chamados dos que estão do lado de fora dela. Isto porque o significado
literal da palavra Igreja é: “ aqueles
que são chamados para fora”, ou seja, as pessoas de todo o mundo são convidadas
a saírem desse sistema dominado pelo seu príncipe, para se tornarem Igreja.
A igreja era um mistério oculto até que o
apóstolo Paulo elucidou
pormenorizadamente esse mistério através de suas cartas escritas como (Colossenses 1:24-26, mais especificamente o vs 26).
Compreendemos assim, que a Igreja é a
detentora e o baluarte da verdade, coluna esta de sustentação dessa grande
construção, onde o mesmo apóstolo diz que lançou o fundamento como prudente
construtor, fazendo uso dessa verdade, onde outros viriam e edificariam sobre este
fundamento que é Jesus Cristo (1Coríntios 3:10-11).
O apóstolo Pedro corroborou com os escritos de Paulo, pois foi através da
experiência de (Mateus 16) que depois escreveu em sua primeira epístola
dizendo:
“chegamos a Ele a pedra que vive (fundamento),
rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós
mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a
Deus por intermédio de Jesus Cristo” (1Pedro 2:4-5).
O propósito primeiro
da existência de uma comunidade cristã, é estar nesta verdade, recebê-la,
entendê-la, desfrutá-la, tornando-a sua
experiência de vida. Sabendo que ao ouvir a proclamação da verdade e crendo
nela, assegura (comunidade) sua alma para a salvação, quando reage apropriando-se
através de uma atitude de fé confessional.
Os agentes da
missão são os proclamadores que abraçaram o ministério da reconciliação. Estes
são aqueles que após receberem a palavra, foram selados e enviados a
proclamarem (kerigma) essa verdade para que haja a continuidade dessa
construção do santuário do Senhor, sua
Igreja, tabernáculo móvel que envolve todos os seus santos que nasceram da
semente da incorruptibilidade (1Jo.3:9; João 1:12-13; 3:1-8).
Os requisitos para o ministério podem ser
muitos, mas inquestionavelmente o primeiro deles deve ser a experiência do novo
nascimento efeito da conversão, reação essa que acontece após ouvir as boas
novas de salvação em Jesus Cristo.
O
papel fundamental da igreja local é educar os seus membros e levá-los a
receberem os dons que Deus disponibiliza para que sejam equipados para toda boa
obra ministerial para o aumento deste edifício. Este
preparo ministerial pode ser a nível local e
a nível que cruze além da sua fronteira geográfica. Os dois níveis devem focar-se na distinção
entre o que é fé e do que não é fé. Ambos os níveis, devem ser comprometidos a
exercerem ministério nos ambientes que não exista fé perceptível ou saudável,
avaliando se o fundamento edificado não
foi alterados, ou modificados. Onde quer
que esteja o povo de Deus é chamado a participar da missão de Deus (missio
Dei). É Deus quem comissiona sua igreja não ela mesma.
A
essência da comunidade da fé consiste no compromisso de cumprir essa missão
comissionada por Deus. A Igreja permeia entre dois ambientes: a comunidade da
fé (comunidade em treinamento) e a comunidade sem fé (a ser alcançada). A
Igreja que não se compromete com a missão de proclamar a salvação de Jesus,
deixou de ser igreja, ou melhor, esta não é a igreja comissionada por Deus,
pois estão lançando outro fundamento que não é Cristo. Comunidade assim, se parece com um clube religioso onde todos os meses os seus
membros pagam as suas taxas como mantenedouros, e vivem como meros amigos que
aprenderam o vocabulário de uma agência de bem-estar sócio-cultural-espiritual;
que são entretidos pelos programas, correntes, promessas financeiras e ainda mais consumindo os seus
produtos em troca de bênçãos. Podemos afirmar que esse tipo de evangelho tem o
homem como centro (evangelho humanista). O evangelho humanista o sujeito de
ação é o ser humano atuando no palco do uso e das atribuições, enquanto que, o
evangelho de Deus atua através da
trindade, tratando os homens como paciente realmente passivo. No evangelho
humanista a experiência está na pauta do
engodo do consumo para satisfação própria, como os gentios que assim procedem.
E por se tratar de um “ambiente religioso” entre aspas, se aceita tudo como
sendo verdade sem questionar. E por não perceberem, são atraídos por propostas gananciosas que sedem sem a mínima cautela, como
está escrito:
“Porque esses tais não servem a Cristo nosso
Senhor, e, sim, a seu próprio ventre; e, com suas palavras e lisonjas enganam
os corações dos incautos” (Romanos 16:18).
O mínimo da experiência que colhem com isso é
a frustração e a experiência do seu próprio esforço profissional ou certo
desencargo de consciência por estarem ali apostando tudo, lhe sendo vedado a
experiência do novo nascimento. Veja a
advertência do Senhor:
“Ai de vós, escribas
e fariseus, hipócritas! Porque fechais o reino dos céus diante dos homens;
pois, vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando” (Mateus 23:13).
Continua anda
o Senhor advertindo a esses falsos proclamadores:
“Ai de vós escribas
e fariseus, hipócritas! Porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito;
e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós”
(Mateus 23:15).
Equipar
homens e mulheres é a função da igreja local e a combater a mentira pela
verdade. Na Igreja, todos os seus membros deveriam abraçar o ministério da
reconciliação, podendo exercer este
ministério dentro da comunidade (equipando os santos para toda boa obra) e ao
mesmo tempo mobilizando-os para o campo onde não exista fé explícita.
No entanto é razoável pensar que o caminho da
missão não é de mão única, é uma via de mão dupla. Jesus Cristo tanto ensinava
pedagogicamente como também praticava o que ensinava. A abrangência ministerial de Jesus está
naquilo que Ele leu em uma sinagoga na cidade de Nazeré quando lhe deram o
livro do profeta Isaias onde achou o lugar que está escrito:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que
me ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos
cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e
apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lucas 4:18-19).
Após
a leitura entregou o livro ao assistente e disse: “Hoje se cumpriu a escritura que acabais de
ouvir”(v.21).
Só deste texto podemos extrair
cinco mistérios:
1 – Evangelizar aos pobres.
2 – Proclamar libertação aos
cativos.
3 – Restauração da vista aos
cegos.
4 – Por em liberdade os
oprimidos.
5 – Apregoar o ano aceitável do
Senhor.
A
Igreja local é chamada a manifestar seus ministérios no mundo, não só pelo conteúdo
que proclama, mas também pelo que pode fazer em resposta as necessidades das
pessoas que estão em sua volta, através da ação primeira, a salvação das almas.
A"grande
comissão" foi entregue aos
apóstolos, pois a eles foi lançado o desafio de pregar o evangelho em todo o mundo, e no
evangelho de Marcos há mais detalhes sobre isso. Enquanto Marcos fala de pregar
o evangelho, Mateus fala também de fazer discípulos e ensinar, o que mostra que
a grande comissão tem um escopo mais amplo do que apenas pregar o evangelho.
(Mateus 28:19) Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.
(Marcos 16:15-16) E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
A grande
comissão incorpora a pregação do evangelho e o ensino de todas as coisas que
Jesus tem mandado guardar. É a própria trindade que se interessa pelos
perdidos. A Igreja tem a missão de reunir todas as pessoas ao redor do mundo,
para ter comunhão com a trindade, da mesma forma que a trindade possui comunhão
entre si, devemos ter comunhão uns com
os outros, pois a parede da separação foi derrubada.
Os dons do
Espírito é uma capacitação sobrenatural que habilitam o homem de Deus a
desempenhar o mandato da reconciliação.
O
que muito tem sido difundido atualmente é que muitas igrejas tem se distanciado
do modelo do kerigma ensinado por Jesus e interpretado pelos seus apóstolos.
Não é a toa
que o cristianismo de consumo está no centro do movimento de crescimento dessas
igrejas e seu efeito letal se encontra quase que em todas elas. Através do seu marketing até mesmo as igrejas
históricas sutilmente tem cedido a essa dissimulação. Inevitavelmente, isso tem afetado a pregação,
a música, o ensino, as programações, as orações e o sentido real de bênção. As
pessoas pensam que ao comprar os produtos religiosos estão adquirindo a espiritualidade
tão necessária para obterem a bênção. A
grande verdade é que Jesus veio resgatar os pecadores e não os consumidores.
Cabe aqui a advertência apostólica:
“Pois muitos andam entre nós, dos quais
repetidas vezes eu vos dizia e agora vos digo até chorando, que são inimigos da
cruz de Cristo: O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a
glória deles está na sua infâmia; visto que só se preocupam com as cousas
terrenas” (Filipenses 3:18-19).
E ainda adverte o apóstolo Paulo:
“Admira-me que estejais passando tão depressa
que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho; o qual não é outro,
senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo”
(Gálatas 1:6-7).
A intenção de
Deus criar a Igreja não foi de prover serviços aos seus membros, ao contrário,
ela deve desafiar os seus membros a obedecerem ao evangelho e a servirem a Deus e a seus semelhantes .
Que Deus nos ajude e nos abençoe.
Romildo Gurgel
Bibliografia:
1 - PADILLA C. Renè. O que é
missão integral? pp.1-22 Editora Ultimato. Viçosa-MG 2009.
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