Na espiritualidade
ególatra, o sacerdote se confunde com a divindade.
A egolatria não é o
simples cuidado do indivíduo consigo mesmo. Cuidar de si mesmo, afinal, é uma
virtude. Quando praticamos o cuidado conosco mesmos, aprendemos a amar mais as
pessoas. A egolatria não é também um sentimento de egoísmo. O indivíduo egoísta
tem a expectativa de que todas as coisas e pessoas estejam em torno de seus
interesses. Sem dúvida, isso é pecado; mas não é, ainda, um culto ao ego. Isso
porque, enquanto o egoísta deseja que todas as coisas existam para atender seus
interesses, o ególatra acredita que tem o poder para mover todas as coisas e
pessoas em torno de si. A principal marca do ególatra é a cobiça, às vezes
demonstrada por atitudes extremas. Tal sentimento foi muito bem exemplificado
na proposta do diabo a Cristo: “Tudo isso te darei se, prostrado, me
adorares.”
A egolatria é mais
danosa do que a idolatria. E existe, lamentavelmente, uma espiritualidade
ególatra, aquela que é caracterizada pela prática religiosa cujas celebrações e
liturgias favorecem a promoção de personalidades. Na idolatria, a divindade é
inanimada; o ídolo não controla a situação. Já na egolatria, oego-deus tem
boca e fala; tem nariz e cheira; tem pés e anda. Ele tem uma inteligência cheia
de artimanhas; em geral, possui carisma e cativa as massas. O ego-deus consegue
passar a ideia de que foi o único dotado para uma missão especial – assim,
possuiria poderes especiais, como uma capacidade mística de desvendar os
mistérios escondidos no além e trazer revelações sobrenaturais.
Nas instituições
caracterizadas pela egolatria, há a necessidade de intermediários entre os
devotos e o divino. Por essa razão, os cargos e papéis espirituais são uma
espécie de concessão do ego-deus a esses intermediários, sob a
condição de trocas simbólicas e materiais. Diante de um ego-deus,
todos os seguidores obedecem, sem o mínimo de discernimento. Qualquer atitude
crítica é denunciada como rebeldia intolerável. A egolatria é marcada pela
necessidade de promoção pessoal, vanglória e arrogância. Os ególatras
necessitam de títulos que os façam diferentes. Em se tratando da vocação
pessoal, os dons e ministérios não representam habilidades para servir às
pessoas; eles são, isso sim, títulos particulares, espécie de insígnias
ostentadas como demonstração de poder e domínio. Nos ambientes marcados pela
egolatria, títulos que, em si mesmos, em nada credenciam seus detentores como
sobre-humanos – como pastor, padre, bispo, apóstolo –, assumem um significado
de divinização de indivíduos em seus feudos religiosos e redes de submissão ao
seu controle.
Na espiritualidade
ególatra, o sacerdote se confunde com a divindade. O agente mágico e a
divindade fundem-se numa só personalidade. Mas o ego-deus é
materialista, possessivo, vingativo; seu discurso não glorifica ao único Deus,
Senhor dos céus e da terra, mas favorece a própria dominação, estimula a
vassalagem dos seguidores e legitima a dinâmica do poder. A legítima pregação
bíblica é substituída por um discurso caracterizado por frases-feitas e
palavras de ordem supostamente capazes de mover a mão divina, decretar a bênção
e promover bem estar físico e material aos adeptos – normalmente, em troca dos
chamados sacrifícios, quase sempre realizados através do dinheiro.
Se, numa
determinada comunidade, as pessoas estão dando mais ênfase à experiência
espiritual que isola, discrimina os de fora e põe os supostamente
espiritualizados em pedestais, é bem provável que estejamos diante da
espiritualidade egolátrica, e não do modelo proposto por Jesus Cristo. No
Evangelho de Cristo, o que é aparentemente oculto é revelado aos pequeninos do
seu Reino. As boas novas “escondidas” em Deus, de fato, estavam sempre presentes;
todavia, os seres humanos sofisticados não compreenderam a singeleza dessa
mensagem: a de que aos pobres e aos pequeninos é que foram reveladas as boas
novas a respeito do Reino de Deus (Lucas 10.18-19). As “revelações” recebidas
pelos poderosos dos empreendimentos religiosos não dizem respeito à mesma
revelação anunciada pelo Filho de Deus aos pobres e pequeninos.
É muito importante
que saibamos discernir entre a espiritualidade revelada por Jesus de Nazaré e
aquela praticada nas ambiências egolátricas da cristandade brasileira.
Pr Carlos Queiroz
O Sr. quer dizer que não existem Médiuns?
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