Uma metáfora sobre a igreja acomodada consigo mesma
Autor: Tucco Egg
Em um reino distante havia uma bela noiva, ansiosa por casar-se, mas
seu noivo disse que antes das bodas ainda teria que fazer uma longa viagem. Um
jardim rude e selvagem cercava a casa do noivo, e ele amava aquele lugar mais
que tudo que possuía. Antes de sair para sua difícil jornada, chamou sua noiva,
tomou-a pelas mãos e pediu-lhe que cuidasse do jardim até sua volta, que o
regasse, podasse, livrasse-o do capim e das ervas daninhas, mantivesse-o vivo,
ainda que com o aspecto rude que ele possuía, porque quando retornasse, ele
próprio trataria do jardim e o tornaria o mais belo de todos os jardins de
todos os reinos. Ao final de todas essas recomendações, tocou os lábio da noiva
como os seus e partiu.
No dia seguinte, a noiva foi até o jardim e dedicou-se a ele como seu
noivo havia feito enquanto esteve lá. Mas, com o passar dos dias, percebeu que
o jardim lhe roubaria a beleza. Suas mãos começaram a sujar, as unhas lascavam,
a pele ressecava ao sol. Sementes de capim aderiram ao seu vestido, espinhos e
pedras feriram-lhe mãos e pés. Decidiu poupar-se, temendo que o noivo não a
aceitasse mais na sua volta. Entrou na casa rodeada pelo jardim, e tratou de
cuidar de si, horas em frente a um espelho, ungindo-se com óleo e perfumes.
No lado de fora, dia a pós dia, ervas daninhas e capim cresceram e
avançaram em direção à casa. Entravam pelas frestas e abraçavam a casa com mil
tentáculos, lacrando portas e encobrindo janelas. Logo o sol já não encontrava
espaço para iluminar a noiva. A casa se tornou escura e úmida. Mofo e bolor
cresciam nos cantos e o ar tornava-se fético. A noiva, no entanto, permanecia
tratando de si, iluminada agora apenas por uma pequena vela, alienada de tudo
que acontecia à sua volta. Na penumbra, já não via mais seu próprio rosto,
agora pálido, nem as olheiras profundas que se formavam e lhe davam um triste
aspecto doentio. Imaginava-se ainda bela e viçosa, enquanto as ervas e o bolor
tomavam conta de todo ambiente.
Quando o noivo voltou, encontrou o jardim abandonado e mal podia ver
sua casa debaixo da densa vegetação. Do lado de dentro, enfraquecida pela
escuridão e sufocada pelo bolor, sua noiva jazia morta. Então, profundamente
entristecido, o noivo olhou para o corpo inerte, a casa destruída e o que
restara do jardim. Enquanto vagava os olhos úmidos pelo local, encontrou
algumas minúsculas flores brancas escondidas entre as ervas e o capim. Seguiu
abrindo caminho na vegetação e recolhendo as flores que encontrava espalhada,
invisíveis naquele matagal. Encontrou milhares delas, colheu-as e juntou-as em
um lindo buquê. Amando-as intensamente, tocou-as com seus lábios enquanto,
juntas, tornaram-se elas mesmas a mais bela entre todas as mulheres. Ali mesmo
ele a desposou e, em seguida, transformou aquele lugar no mais belo jardim que
jamais existiu.
Digo-lhes a verdade: Os
publicanos e as prostitutas estão entrando antes de vocês no Reino de Deus.
(Mt.21:31b). -
Portanto eu lhes digo que o
Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do
Reino. (Mt.21:43).