segunda-feira, 26 de setembro de 2011

JESUS NÃO DEIXOU UMA IGREJA INSTITUCIONALIZADA, MAS ENSINOU QUE SEUS DISCÍPULOS DEVERIAM ASSUMIR E SE ORGANIZAR EM COMUNIDADES

1 - O PERCURSO DA IGREJA DE JESUS NA HISTÓRIA
A igreja cristã em todas as épocas, quer na passada, presente ou futura, é formada por todos aqueles que crêem em Jesus de Nazaré, como Filho de Deus e salvador. No ato de crer está implícita a humildade de segui-lo como salvador, obedecê-lo como o príncipe do reino de Deus sobre toda a terra. A Igreja teve seu início na historia como um movimento de caráter mundial, no dia de Pentecostes, no fim da primavera do ano 30, cinqüenta dias após a ressurreição do Senhor Jesus, e dez dias depois de sua ascensão ao céu. Durante o tempo em que Jesus exerceu seu ministério, os discípulos criam que Jesus era o almejado Messias de Israel, o Cristo. Messias é palavra hebraica e Cristo é palavra grega. Mas ambas significam “O Ungido”. Apesar de Jesus haver aceito esse título de seus seguidores mais chegados, contudo proibiu de proclamarem essa verdade entre o povo antes que ele ressuscitasse de entre os mortos. Antes, eles deveriam esperar o batismo do Espírito Santo, para então serem testemunhas em todo o mundo. Percebe-se que o efeito do dia de pentecostes nos que estavam reunidos foi tríplice: a) Iluminou a mente dos discípulos dando-lhes um novo conceito do reino de Deus. b) Compreenderam que este reino não era um império político, mas um reino espiritual, na pessoa de Jesus ressuscitado, que governava de forma invisível a todos aqueles que nasciam para Deus (novo nascimento). c) Aquela manifestação revigorou a todos, repartindo com eles o fervor do Espírito, e o poder de expressão que fazia de cada testemunho um motivo de convicção naqueles que os ouviam. Depois destes fatos acontecerem, o Espírito Santo, desde então ficou morando permanentemente na vida dos cristãos, e não em sua organização e mecanismos, mas como possessão individual e pessoal do verdadeiro cristão.
A igreja teve seu início na cidade de Jerusalém e suas atividades nos primeiros anos limitavam-se àquela cidade e aos arredores dela. Não se tem registro na história que indique as reuniões das primeiras comunidades como organização, nem o reconhecimento de tais grupos como instituição. As sedes gerais da igreja (como comunidade) eram o Cenáculo, Monte de Sião, e o Pórtico de Salomão, no Templo.
A leitura dos primeiros seis capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos dá a entender que durante esse período o apóstolo Simão Pedro era o dirigente daquela comunidade em Jerusalém. Em todas as ocasiões era Pedro quem tomava a iniciativa de pregar, de operar milagres e de defender a igreja que então nascia. Sob a direção de Pedro, Paulo e seus sucessores imediatos, a igreja (como comunidade) foi estabelecida no espaço de tempo de duas gerações, em quase rodos os países, desde o Eufrates até ao Tigre, desde o Mar Negro até o Nilo.
Durante o período que se seguiu à Era Apostólica, e que durou duzentos anos, a igreja (como comunidade) esteve sob a espada da perseguição. Portanto, durante o segundo, terceiro e parte do quarto século, o império Romano exerceu todo o seu poder e influência para destruir aquilo que chamava de a “superstição cristã”. Durante sete gerações, um enorme exército de mártires conquistou suas coroas sob as espadas de seus inimigos, das feras nas arenas e nas ardentes fogueiras e crucificações. Contudo, em meio a tantas mortes e perseguições, os seguidores de Cristo aumentavam em número, até alcançar metade do Império Romano. Finalmente, o imperador Constantino subiu ao trono e por meio de um decreto conteve a onda de mortes. A igreja perseguida passou a ser a igreja imperial. A Cruz tomou o lugar da Águia como símbolo da bandeira da nação e o Cristianismo converteu-se em religião do Império Romano. O imperador cristão exercia autoridade suprema, cercado de uma corte formada de cristãos professos. Dessa forma passaram os cristãos, de um momento para outro, do anfiteatro romano onde tinham de enfrentar os leões, ocupar lugares de honra junto ao trono que governava o mundo. Com tal fato, o cristianismo foi beneficiado e muito com a atitude do governo do império:
a) Cessaram todas as perseguições.
b) Alguns templos nos períodos das perseguições foram recuperados e novamente abertos em toda parte.
c) Todos os templos que ainda existiam quando Constantino subiu ao poder, foram restaurados e aqueles que tinham sido destruídos, foram pagos pelas cidades em que estavam.
d) Em todo o império os templos dos deuses do paganismo eram mantidos pelo tesouro público, mas com a mudança que se operaram, esses donativos passaram a ser concedidos às igrejas e ao clero cristão. Em pequena escala a principio, mas logo depois de maneira generalizada e de forma liberal, os dinheiros públicos foram enriquecendo as igrejas, e os bispos, os ministros, todos os funcionários do culto cristão eram pagos pelo Estado. Era uma dádiva bem recebida pelo igreja, porém, de benefício duvidoso.
e) Muitos privilégios foram concedidos ao clero, onde pouco depois se transformou em lei esses benefícios.
f) O primeiro dia da semana (domingo) foi proclamado como dia de descanso e adoração, que em pouco tempo se generalizou por todo o império.
g) A crucificação foi abolida.
h) As lutas dos gladiadores foram abolidas.
Apesar dos triunfos do Cristianismo haver proporcionado boas coisas ao povo, contudo a sua aliança com o Estado, inevitavelmente devia trazer, como de fato trouxe, maus resultados para a igreja. Se o término da perseguição foi uma bênção, a oficialização do Cristianismo como religião do Estado foi, não há dúvida, maldição.
Todos queriam ser membros da igreja e quase todos eram aceitos. Tanto bons como os maus, os que buscavam a Deus e os hipócritas buscando vantagens, todos se apressavam em ingressar na comunhão. Homens mundanos, ambiciosos e sem escrúpulos, todos desejavam postos na igreja, para, assim, obterem influência social e política. O nível moral do Cristianismo no poder era muito mais baixo do que aquele que distinguia os cristãos nos tempos de perseguição. Os cultos de adoração aumentaram em esplendor, porém eram menos espirituais e menos sinceros do que no passado.
Hoje, a Igreja de Jesus Cristo esta sendo questionada e discutida praticamente em todas as denominações e até mesmo os que estão fora dela. O surgimento de milhares de denominações evangélicas, o poderio apostólico de igrejas neo-pentecostais, a institucionalização, a secularização das denominações no geral, a profissionalização do ministério pastoral, a busca de diplomas teológicos reconhecidos pelo estado, a variedade infindável de métodos de crescimento das igrejas tradicionais, o fracasso das igrejas emergentes – tudo isso tem levado muitos a se desencantarem com a igreja institucional e organizada. É verdade que Jesus Cristo não deixou uma igreja institucionalizada neste mundo. Todavia ele disse algumas coisas a seus discípulos a se organizarem em comunidades ainda mesmo no período apostólico e muito antes de Constantino.
(Lopes, Augusto Nicodemus, em seu artigo Os Desigrejados, Teceu alguns comentários bíblicos, que são suficientes para se constatar que a Igreja que Jesus Cristo fundou foi realmente organizada pela sua comunidade de discípulos, muito antes que a igreja fosse institucionalizada por Constantino.
FORMA PROPOSTA POR JESUS E OBEDECIDA PELOS SEUS DISCIPULOS QUANTO A ORGANIZAÇÃO DE SUAS COMUNIDADES.
1 – Jesus disse aos seus discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de Pedro, que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mateus 16:15-19). A Igreja foi fundada sobre esta pedra que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (!Pe.2:4-8) . Os que não aceitam esta verdade, não é igreja cristã. Os apóstolos estavam prontos para defender a comunidade de pensamentos gnósticos e judaizantes e libertinos desobedientes, como o seguidores de Balão e os nicolaítas (cf.2Jo10; Rm 16.17; !Co.5.11; 2Ts 3.6; 3.14; Tt 3:10; Ap 2.14; 2.6,15). Fica praticamente impossível nos mantermos sobre a rocha, Cristo, e sobre a tradição dos apóstolos registrada nas escrituras, sem sermos igreja, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados, advertidos, confirmados, e onde os que se desviam da verdade apostólica são rejeitadas.
2 - A declaração de Jesus acima, que a sua igreja se ergue sobre a confissão acerca de sua Pessoa, nos mostra a ligação estreita, orgânica e indissolúvel entre ele e sua igreja. Em outro lugar, ele ilustrou esta relação com a figura da videira e seus galhos (João 15). Esta união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a compararam à relação entre a cabeça e o corpo (Ef. 1.22-23), a relação marido e mulher (Ef. 5.22-33) e entre o edifício e a pedra sobre o qual ele se assenta (1Pe. 2.4-8). Os que estão sem igreja(comunidade), querem Cristo, mas não querem sua comunidade (igreja). Querem o noivo, mas rejeitam sua noiva. Mas, aquilo que Deus ajuntou, não o separe o homem. Não podemos ter um sem o outro.
3 - Jesus instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu em pecado (Mt.18.15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da “igreja” – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt.18.17). Os apóstolos entenderam isto muito bem, pois encontramos em suas cartas dezenas de advertências às igrejas que eles organizaram para que se afastassem e excluíssem os que não quisessem se arrepender dos seus pecados e que não andassem de acordo com a verdade apostólica. Um bom exemplo disto é a exclusão do “irmão” imoral da igreja de Corinto (1Co. 5). Como pode um cristão ter o cuidado de ser punido para a recuperação estando fora de uma comunidade?
4 - Jesus determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo o mundo, e que os batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia mandado (Mt.28.19-20). Os discípulos entenderam isto muito bem. Eles organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no ensino apostólico. Eles estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas, que eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e cuidar dos necessitados (At.6.1-6; At.14.23). Definiram claramente o perfil destes líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm. 31-13; Tt. 1.5-9; Tg. 5.14).
5 - Não demorou também para que os cristãos apostólicos elaborassem as primeiras declarações ou confissões de fé que encontramos (cf. Rm. 10.9; 1Jo 4.15; At. 8.36-37; Fp 2.5-11; etc.), que serviam de base para a catequese e instrução dos novos convertidos, e para examinarem e rejeitarem os falsos mestres. Veja, por exemplo, João usando uma destas declarações para repelir livres-pensadores gnósticos das igrejas da Ásia (2Jo 7-10; 1Jo 4.1-3). Ainda no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas haviam se organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres e guias, uma ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm.3.1; 5.17,19; Tt.1.5; Fp.1.1; 1Tm.3.8,12; 1Tm.5.9; 1Tm.4.14). O exemplo mais antigo que temos desta organização é a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para tratar de um caso de doutrina – a inclusão dos gentios na igreja e as condições para que houvesse comunhão com os judeus convertidos (At.15.1-6). A decisão deste que ficou conhecido como o “concílio de Jerusalém” foi levada para ser obedecida nas demais igrejas (At.16.4), mostrando que havia desde cedo uma rede hierárquica entre as igrejas apostólicas, poucos anos depois de Pentecostes e muitos anos antes de Constantino.
6 - Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para comer o pão e beber o vinho em memória dele (Lc. 22.14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At.2.42; 20.7; 1Co.10.16). Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo introduziram normas para a participação nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co.11.23-34). Não sei direito como os desigrejados celebram a Ceia, mas deve ser difícil fazer isto sem que estejamos na companhia de irmãos que partilham da mesma fé e que crêem a mesma coisa sobre o Senhor.
7 - É curioso que a passagem predileta dos desigrejados – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt.18.20) – foi proferida por Jesus no contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são os dois ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da igreja (Mt.18.16). Ou seja, são os dois ou três que estão agindo para preservar a pureza da igreja como corpo, e não dois ou três que se separam dos demais e resolvem fazer sua própria igrejinha informal ou seguir carreira solo como cristãos.
8 O meu ponto é este: que muito antes do período pós-apostólico, da intrusão da filosofia grega na teologia da Igreja e do decreto de Constantino – os três marcos que segundo os desigrejados são responsáveis pela corrupção da igreja institucional – a igreja de Cristo já estava organizada, com seus ofícios, hierarquia, sistema disciplinar, funcionamento regular, credos e confissões. A ponto de Paulo se referir a ela como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm.3.15) e o autor de Hebreus repreender os que deixavam de se congregar com os demais cristãos (Hb.10.25). O livro de Atos faz diversas menções das “igrejas”, referindo-se a elas como corpos definidos e organizados nas cidades (cf. At.15.41; 16.5; veja também Rm.16.4,16; 1Co. 7.17; 11.16; 14.33; 16.1; etc. – a relação é muito grande).
9 No final, fico com a impressão que os desigrejados, na verdade, não são contra a igreja organizada meramente porque desejam uma forma mais pura de Cristianismo, mais próxima da forma original – pois esta forma original já nasceu organizada e estruturada, nos Evangelhos e no restante do Novo Testamento. Acho que eles querem mesmo é liberdade para serem cristãos do jeito deles, acreditar no que quiserem e viver do jeito que acham correto, sem ter que prestar contas a ninguém. Pertencer a uma igreja organizada, especialmente àquelas que historicamente são confessionais e que têm autoridades constituídas, conselhos e concílios, significa submeter nossas idéias e nossa maneira de viver ao crivo do Evangelho, conforme entendido pelo Cristianismo histórico. Para muitos, isto é pedir demais.
Conclusão.
A Igreja como corpo de Cristo, esta espalhada nos quatro cantos da terra, porém quanto a sua forma de aparecer, traz no seu testemunho os seus traços culturais incorporadas conjuntamente com as verdades da palavra de Deus, que foram recebidas pela comunidade. Não existe comunidade perfeita, estamos no caminho e a caminho da perfeição, no entanto, estamos ainda trafegando através de uma comunidade fraterna onde despejamos os nossos dons e funções em prol do corpo de Cristo (sua Igreja). Todo cristão que se diz ser cristão, deve se reunir com outros que tenha a mesma regra de fé e confissão. Todos nós como discípulos de Jesus precisamos que outros irmãos lavem também os nossos pés. Estou vendo que a toalha e a bacia do Senhor Jesus esta sendo desprezada atualmente por muitos cristão que não se reúnem mais, mas o que autentica a nossa união com Cristo é a comunhão com o seu corpo seja qual for a forma que a comunidade esteja organizada. Todos nós que estamos na esperança da segunda vinda de Jesus, aguardamos em humildade o seu retorno como discípulos obedientes as suas instruções. Precisamos enquanto estamos a caminho e no caminho, ser corrigidos, instruídos, moldados, conduzidos, exortados, edificados, consolados, desvendados por muitos outros que estão lado a lado com a mesma carreira que nos foi proposta. Que Deus nos ajude a entender onde estamos ao cumprir os propósitos de Deus como sua Igreja.
No amor de Cristo,
Romildo Gurgel
Bibliografia:
1 - Hurlbut, Jesse Lu[yman - História da Igreja Cristã. Editora Vida, 13ª edição, 2001. 2 - Augusto Nicodemus Lopes – artigo Os Desigrejados

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