quarta-feira, 3 de maio de 2017

NOVO NASCIMENTO E CONVERSÃO DA ALMA



Por
Romildo Gurgel


NOVO NASCIMENTO E CONVERSÃO DA ALMA

Muitos confundem a verdade do novo nascimento com a conversão da alma. Inconfundivelmente a escritura sagrada nos diz que a salvação se inicia através do novo nascimento (cf. João 3:3-5). Conforme este texto, quem não nascer de novo, “não pode ver o reino de Deus” (v.3), e tampouco “entrar nele” (v.5).  Deste modo o novo nascimento introduz a pessoa no reino de Deus e a torna apta para percebê-lo. O novo nascimento é o início da caminhada cristã, trata-se do novo nascimento do espírito humano. O Espírito de Deus recria o espírito humano e passa habitar nele. Podemos dizer que é a regeneração da vida espiritual, e em outras palavras é a salvação de fato. Quanto ao tempo para que isso aconteça, ela ocorre quando acreditamos no evangelho de Jesus Cristo; A semente da incorruptibilidade é semeada no natural, no coração humano, e por sua vez o nosso espírito humano é recriado instantaneamente. Para que isso aconteça é só crer na obra redentora de Jesus tomando a decisão para que ele seja senhor da sua vida. Deve ser uma entrega radical, total. Com essa fé, mediante o arrependimento de seus pecados através da pregação do Evangelho, nascemos de novo.

Agora, a conversão da alma, trata-se de um processo contínuo de regeneração que se expande a partir do espírito humano, alma indo até o corpo. Isso demanda um bom tempo e existe um preço a ser pago. Apesar da salvação ser gratuita e instantânea, a conversão leva tempo e também um preço a ser dispendido.

A conversão demanda uma mudança de direção e de valores; diversos aspectos da vida devem passar por transformação ao saber a mente de Deus nas suas mais diversas áreas, afetando diretamente nas nossas decisões, comportamentos e relacionamentos.

No entanto, a conversão é o processo perseverante de libertação e regeneração da alma. A alma não acompanhou a instantaneidade do novo nascimento, isso vai acontecer com ela de uma forma gradativa, paulatina e contínua, isto é um processo por toda vida.

Você pode ser salvo e não ser convertido na alma em relação a muitas áreas de sua vida. Ser salvo diz respeito que o espírito humano regenerado dispõe sua natureza restaurada para a alma e consequentemente o corpo. A isto poderemos chamar também de santificação, que interpassará por essas três áreas: espírito, alma e corpo. O apóstolo Paulo expressou muito bem estes três aspectos da santificação:
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Tessalonicenses 5:23).

            O crente corre um enorme perigo, pelo fato de ser salvo sem ser convertido. Saber que nasceu de novo e que a velha natureza ainda domina com seus velhos hábitos, algumas atitudes ainda não mudaram, muitas ideias e raciocínios ainda continuam errados, as convicções negativas ainda permanecem, pensamentos malignos ainda com muita frequência frequentam e ocupam a sua mente, corrupção, ódio, amargura, inveja ainda continuam em você, é uma sinalização que a alma ainda precisa passar por uma regeneração. Repito, a regeneração do espírito é instantânea, mas será que poderemos dizer isso também com a alma. Sua alma exige um longo tempo para se converter.

            Um outro grande perigo é afirmar para uma pessoa que acaba de aceitar Jesus que tudo na vida dele já está resolvido. Isto não é verdade.

            O apóstolo Paulo através da sua experiência cristã dá uma luz quanto a este assunto quando escreveu:

“Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros” (Romanos 7:22-23).

            João Calvino traduziu este texto afirmando que o apostolo Paulo defende aqui a existência de quatro leis.

(1)   A lei de Deus que é a única que merece ser assim chamada, visto ser ela a norma de justiça pela qual nossa vida é corretamente moldada.
(2)   A lei da mente, designando a prontidão da mente fiel em obedecer à lei divina. Esta consiste em a nossa conformidade com a lei de Deus.
(3)   A lei da justiça. Por essa Paulo designa o poder que a iniquidade exerce, não só no indivíduo ainda não regenerado, mas também na carne do regenerado.
(4)   A lei em seus membros.  A concupiscência que reside em nossos membros. São as leis dos homens, por mais iníquas que possam ser, são ainda chamadas de leis, ainda que incorretamente.

João Calvino ainda continua dizendo que no verso (22) revela o prazer que o crente tem na lei de Deus, e ao mesmo tempo revela o conflito existente na sua mente, a luta entre o espírito e a carne. Sendo assim, a lei de Deus convoca o homem para o governo da justiça; a iniquidade, que é a lei tirânica de Satanás, desperta-o a prática da perversidade. O espírito o conduz a render obediência à lei divina; a carne o atrai a uma direção oposta. O home passa a ser uma criatura dupla por força de desejos variados.

Perceba com atenção o significado da palavra “homem interior e membros” do texto em epigrafe. O homem interior não significa simplesmente a alma, mas a parte espiritual do ser humano que foi regenerada por Deus quando ele nasceu de novo. Membros significa as outras partes restantes. Como o espirito humano é a parte mais interior, a alma é a mediadora entre o espírito humano e o corpo, sendo este ultimo a parte inferior do homem. O espírito assume o papel da alma no homem; mas a carne, que é também a alma corrompida e deteriorada, assume o lugar do corpo.

Agora perceba o que o apóstolo Paulo diz em (Romanos 8:1-2) – “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei o Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte”.

            Segundo a experiência do apóstolo, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo. Em Cristo refere-se à incorporação do crente no Corpo de Cristo pelo Espírito. A autoridade que domina e governa o corpo não é mais a lei, nem a carne, nem o pecado, mas a lei do Espírito de vida. A lei do Espírito de vida, age desde o espírito humano, regenerando a alma e levando o homem apresentar o seu corpo como redivivos dentre os mortos.

            A grande faceta da alma é a sua inclinação. Ela é a mediadora entre o espírito humano e o corpo. Aonde decidirmos inclinar, seja para que dos dois lados for, refletiremos o nosso estado. O apóstolo Paulo escrevendo aos romanos disse:

“Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz” (Romanos 8:5-6).

Quero encerra fazendo ainda uma citação do apóstolo Paulo:

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8:9).


Que o Senhor nos ajude,


Romildo Gurgel



Fonte:
Coty, Libertação. Editora Jocum. Compilado e adaptação das p.22-25

Chedd, P Russel. Bíblia Shedd, Editora Vida nova. Comentário p.1592.