Por Marcos Aurélio
dos Santos
Durante minha caminhada cristã pude observar o comportamento de alguns
pastores quanto ao seu compromisso de pastorear o rebanho que nos foi confiado.
Alguns deixaram para mim lições valiosas, especialmente como exemplo de vida,
pastores imitadores de Deus, dignos de serem imitados, modelos do rebanho.
Porém outros lamentavelmente nos trouxeram nada mais do que profunda decepção,
no qual estes, eu não recomendaria ninguém a imitar. Essa experiência me levou
a refletir nas escrituras, como se deve pastorear o rebanho de Deus. Suas
implicações, desafios, como cuidar de ovelhas à maneira de Deus. O texto que
nos chama para reflexão é 1 Pe.5.2-4 que diz: Pastoreai o rebanho de
Deus que há entre vós , não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus
quer, nem por sórdida ganância , mas de boa vontade nem como dominadores dos
que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que
o supremo pastor se manifestar, recebereis a inacessível coroa de glória.
Pedro exorta os pastores a cuidar das
ovelhas de Jesus, não por constrangimento, mas de boa vontade. Pastores que
vivem queixando-se de seu ministério, que vêem no pastorado um fardo pesado,
difícil de carregar, onde não há alegria no que faz, não estão aptos para
pastorear o rebanho de Cristo, pois a chamada é para o serviço espontâneo, com
liberdade, sentindo imenso prazer em pastorear o rebanho. Pastorear
espontaneamente é amar o que faz, é amar a si mesmo, é a mar a Deus e seu
rebanho, ensinando-as a caminhar pelas veredas da justiça, encaminhá-las pelo
caminho da graça, levá-la nos ombros e cuidar de suas feridas. Dar para elas
alimento saudável, nutrição espiritual, palavra de Deus. Ajudá-las em suas
necessidades materiais, pois pastores que dizem ter fé mas não faz obras, sua
fé é morta (Tg.2.17). Pastorear espontaneamente é ter profundo sentimento de
compaixão, misericórdia, é deixar a graça transbordar. Devemos ser
pastores cheios do Espírito, com desejo de servir.
Pedro continua advertindo os lideres daquela
comunidade cristã a exercer o pastorado não motivado pelo dinheiro, mas, de boa
vontade. A advertência é para fugir da avareza 2 Pe.2.3 . Devem vigiar para que
não vejam no rebanho uma fonte de lucro, uma maneira de se dar bem na vida. O
mercenário não sente prazer em cuidar do rebanho. Em vez de cuidar, proteger,
alimentar, sua intenção é tirar a lã, explorar, negociá-la por bom preço. Disse
Jesus: O mercenário que não é pastor, a quem não pertence às ovelhas,
vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e as
dispersa. O mercenário foge porque é mercenário e não tem cuidado com as
ovelhas. (Jo.10.12-13).
Certa vez um colega pastor me contou um fato
que tem muito a ver com o texto acima citado. Um ”Irmão pastor” convidou-lhe
para conhecer uma cidade onde se cogitava a possibilidade de implantar uma nova
frente missionária. O pastor foi com boas intenções. Na ocasião negociava-se a
compra de um terreno na cidade. Mas para surpresa e decepção do pastor, o
“irmão pastor” propôs negociar também os irmãos juntamente com o terreno. Sua
intenção era vender o pacote completo. Sua visão pastoral era puramente
mercantilista. Para ele o que importava era dinheiro no bolso.
Histórias como estas e outras bem parecidas,
não são difíceis de encontrar em nosso meio. É o pastor que antes de ser contratado,
sua primeira atitud é verificar o rendimento mensal da igreja, se não
tiver boa renda, ele não aceita a proposta, espera outra melhor. É o que não
pensa duas vezes quando recebe uma proposta financeira melhor do que a que ele
ganha e isso sem pensar nas consequências futuras quanto a igreja que
pastoreia. É o que vende as ovelhas em troca de benefícios em período
eleitoral. É o que centraliza, controla tudo que está ligado a área financeira
da igreja. É lamentável.
Nossa chamada é para servir, cuidar, e isso
de boa vontade, pensando no rebanho e no seu crescimento e não no que ele pode
render. Exercer a disciplina do contentamento, trilhar no caminho da piedade.
Pastorear o rebanho de Deus é pastorear consciente de que as ovelhas nos foram
confiadas, que na vinda do senhor haverá prestação de contas. Ai dos pastores
que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! diz o Senhor (Jr.23.1).
A advertência agora é para que os
pastores não sejam dominadores das ovelhas que Deus os confiou. Não devem
dominar porque o rebanho não lhe pertence. O sangue derramado na cruz não foi o
do pastor humano, mas do sumo pastor que se manifestará em glória (2 Pe.5.4).
Podemos observar aqui algumas características de
pastores dominadores. 1) Coloca-se sempre numa posição acima do rebanho, não
aceita estar em pé de igualdade com as ovelhas. 2) Não admite ser questionado,
julga-se dono da verdade. 3) Usa da psicologia para causar medo nas ovelhas, tira
a liberdade de expressão do rebanho. 4) Detém o poder a qualquer custo.5)
Fica doente quando lhe é retirado o poder. 6) É centralizador em extremo.
Podemos citar outras características aqui,
mas creio que estas já definem por demais os dominadores de rebanho. Digo que
pastorear é servir, pois foi este o exemplo de Cristo em seu estilo de
pastorear. Se alguém pensa em pastorear, mas não se dispõe a servir aos irmãos,
não está apto para cuidar de gente.
Um versículo que nos chama atenção no texto é 1 Pe
5.1. Reconhecendo suas falhas e caminhando nos passos da maturidade, Pedro ao
escrever esta carta demonstra um profundo espírito de humildade, pois sendo
apóstolo se considera como um dos presbíteros desmentindo toda e qualquer honra
que lhe foi atribuída de primeiro papa. Quantos de nós pastores estamos
dispostos a ser o menor na congregação que pastoreamos?
Por fim, a advertência é para sermos modelos
do rebanho. Então, é imprescindível que as ovelhas vejam em nós o exemplo de
Cristo, que através de um relacionamento entre ovelha e pastor possa haver
necessidade de imitar. Como diz Paulo: Sedes meus imitadores, como também eu
sou de Cristo. Nisto o pastor deve se esforçar para viver um estilo de vida à
maneira de Jesus, produzindo frutos, servindo, amando, para que possa receber a
coroa de glória (1 Pe 5.4). Mais uma vez digo, pastorear é servir, pois Cristo,
o Sumo Pastor disse dele mesmo: Tal como o filho do homem, que
não veio para ser servido mas para servir e dar a vida em resgate de
muitos (Mt 20.28).
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